O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, para 11,75% ao ano na última quarta-feira (13). O corte de 0,5 ponto percentual
A queda da Selic é repassada para os financiamentos, que ficam um pouco mais baratos. Com a perspectiva de continuidade do ciclo de cortes dos juros, vale a pena financiar um imóvel em 2024 ou viver de aluguel? Veja abaixo o que dizem os especialistas.
Com a queda da Selic, vale a pena comprar imóvel em 2024?
A Selic é a taxa básica de juros do país. Ela serve como referência para todos os outros juros. Por isso, na prática, quando a Selic cai, tomar crédito, fazer empréstimos e financiamentos também fica mais barato.
Ainda assim, as reduções não são imediatas. Além disso, a taxa de juros já caiu consideravelmente (visto que chegou em 13,75% em junho do ano passado), mas ainda está muito distante da sua mínima histórica de 2%. O patamar foi atingido em agosto de 2020 e permaneceu dessa forma até o início de 2021, quando o ciclo de altas começou. O mercado prevê a Selic encerre 2024 em 9,5%., aponta o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central semanalmente.
Com a redução da taxa, 2024 pode ser um ano mais favorável para a compra de imóveis. É o que avalia Larissa Gonçalves, economista do DataZAP, ferramenta de monitoramento de dados do mercado imobiliário da OLX. Ela explica que houve um "boom" no mercado imobiliário, graças à Selic em 2%. Era esperado que o mercado retraísse em 2023, o que de fato aconteceu. Consequentemente, o financiamento ficou mais caro e menos famílias conseguiram comprar imóveis ao longo do ano.
As pessoas chegaram no banco e não conseguiam ter seu financiamento aprovado. A taxa de juros começa a cair e aumenta a quantidade de famílias que começam a chegar na fase final do financiamento e ter seu crédito aprovado. O governo também sinalizou aumento de investimentos no Minha Casa Minha Vida, além do aumento da faixa de renda, que agora chega em até R$ 8 mil. O ano que vem será muito melhor do que 2023. A expectativa é de um cenário em que as taxas de financiamento imobiliário vão estar mais vantajosas.
Larissa Gonçalves, economista do DataZAP
Mas apesar dos cortes, a Selic continua alta. Por isso, a taxa não é necessariamente um fator decisivo para a compra de um imóvel, ainda que faça muita diferença. Andrew Storfer, diretor de economia e membro do conselho de administração da Anefac (Associação Nacional de Executivos), afirma que o país dificilmente voltará a ter uma taxa tão baixa, na casa dos 2%.
Mais do que os juros, Andrew acredita que outros fatores devem ser levados em conta antes da compra: a valorização do imóvel, se é uma boa oportunidade e se há perspectiva de renda para o pagamento são alguns pontos que podem pesar mais.
O Brasil teve que subir esses juros mais fortemente no passado, subiu muito, inclusive. É um valor bastante expressivo, e agora está caindo. Mas a gente não vai voltar tão cedo a um juro tão baixo. A gente fala de uma expectativa entre 9 ou 9,5% [no próximo ano]. Os financiamentos imobiliários hoje, dependendo do banco e da condição, têm juros em torno de 11%, 12% ao ano. Mas eles não vão cair expressivamente com a queda da Selic. Vai cair um pouquinho, vai ficar na casa dos 10%. [A Selic] sempre influencia, mas não é um fator tão decisivo na compra do imóvel.
Andrew Storfer, diretor de economia e membro do conselho de administração da Anefac.
Comprar ou alugar?
O dilema entre compra ou aluguel de um imóvel costuma causar discussões. Influenciadores do mundo das finanças às vezes batem na tecla de que imóvel não seria um investimento, logo, não é algo que valeria a pena.
Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor, acredita que imóvel é, sim, investimento, como qualquer outro. É algo que soma na construção do patrimônio do proprietário. Por outro lado, o economista avalia que um financiamento não costuma valer a pena — diferentemente de fazer a compra à vista. Isso porque o retorno que o imóvel pode dar ao seu proprietário (valorização + aluguel, se colocado para locação) costuma ser menor do que a taxa de juros paga no financiamento, o que resultaria em um rendimento negativo.
Você compra um bem e a taxa de financiamento é por volta de 10 e 12% ao ano. E você comprou um bem que só rende 6%. Você pode ter uma rentabilidade negativa. O imóvel vale R$ 200 mil, e digamos que a rentabilidade seja de 10% ao ano, o que é coisa pra caramba. O custo do financiamento é de 12%, você colocou R$ 40 mil e financiou os outros R$ 160 mil. 12% ao ano [do total financiado] vai dar R$ 19 mil, quase R$ 20 mil. O que acontece? O imóvel rendeu R$ 20 mil e o financiamento comeu R$ 19 mil, quase R$ 20 mil. Não sobra nada. Isso se por acaso imóvel render razoavelmente bem. Se render menos de 10% ao ano, você está perdendo dinheiro.
Michael Viriato, estrategista da Casa do Investor
Por isso, o especialista acredita que, em uma situação do tipo, é melhor morar de aluguel. Tudo depende da expectativa de retorno do imóvel. Se considerada a rentabilidade média para o mercado (não uma acima da média, como seriam os 10% ao ano) e a taxa de juros do financiamento, o proprietário perderá dinheiro. Viriato explica que na compra de um imóvel costuma existir o "paradigma da posse": a ideia de que se a pessoa tem um bem, ele vale mais, o que não é necessariamente verdade.
Alterações valem a partir de 1º de novembro. Com isso, clientes precisarão dar pelo menos 30% do valor do imóvel de entrada pelo sistema de amortização SAC e 50% pelo sistema Price.
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